Portugal está mal porque os portugueses são maus, dizem os pachecos deste País.
Estamos mal na política porque a Nação degenerou desde os idos de 500; no Estado porque carecemos do pulso firme de um Sebastião José de Carvalho e Melo; no povo porque nos falta o arrojo dos tempos da guerra colonial, na economia porque a arraia-miúda esbanja uma parte e come o resto; na balança comercial porque não apostamos na exportação dos famigerados bens transaccionáveis e no défice porque ganhamos muito e produzimos nada. Socialmente estamos pior, garantem os pachecos: subsidiamos com o RSI quem não precisa; arcamos com subsídio de desemprego a quem não trabalha e na nossa mísera situação não poderemos desembolsar subsídio de férias e décimo terceiro mês a quem tão pouco faz. Os nossos pachecos insistem ainda que na bola estamos reduzidos à dimensão do rectângulo de jogo. Falta-nos sempre um bendito número dez e um trinco: o primeiro indispensável na condução do esférico pelo corredor central e naquelas coisas das transições ofensivas, e o segundo, absolutamente necessário na pressão alta, a ver se o adversário não se arrebata. Como perdemos quase sempre, afirmam os ditos pachecos e sempre do mesmo modo solene que tudo resulta da nossa íntima tacanhez lusa… Desses prodigiosos pachecos, conhecidos exclusivamente pelo seu talento, que opinam na banalidade e na barbaridade, que falam com a mesma sabedura de política europeia, das estratégias da alta finança internacional, de energia nuclear de tecnologia espacial ou do preço de venda do carapau, dizia Eça na sua Carta Ao SR. E. Mollinet, inserta na Correspondência de Fradique Mendes: “Eu casualmente conheci Pacheco. Tenho presente, como num resumo, a sua figura e a sua vida. Pacheco não deu ao seu país nem uma obra, nem uma fundação, nem um livro, nem uma ideia. Pacheco era entre nós superior e ilustre unicamente porque tinha um imenso talento”(…) O único recurso que restou então aos devotos desse imenso talento (que já os tinha incontáveis) foi contemplar a testa de Pacheco – como se olha para o céu pela certeza que Deus está por trás, dispondo. A testa de Pacheco oferecia uma superfície escanteada, larga e lustrosa. E muitas vezes, junto dele, conselheiros e directores-gerais balbuciavam maravilhados: ”nem é preciso mais, basta ver aquela testa!” É desses e não de outros honrados pachecos de nome e de postura que falo. Falo dos pachecos comentadores sem ideias nem soluções, dos pachecos promovidos a talento pela pantalha, desses que tagarelam sobre tudo sem dizer nada. Falo dos abunbantes pachecos sem os quais Portugal teria um soluço de ânimo e um enorme suspiro de alívio. Equilibremos então as finanças, a economia, o défice e a balança comercial pela exportação de pachecos. O País ganha, os portugueses terão mais esperança e mercado não há-de faltar…basta ver aquelas testas.
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