terça-feira, julho 27, 2010

Os corações também se gastam




Hermenêutica é uma ciência que estuda a compreensão humana e a interpretação de textos escritos. O vocábulo deriva da palavra grega: “Hermes”, que entre outros significados é a quem (porque é um deus), os gregos atribuíam a origem da linguagem e da escrita.
Podemos tranquilamente ser bem sucedidos numa interpretação de texto. Para isso devemos ter em conta várias condicionantes, que passam naturalmente, por ler todo o texto (tenha ele 10 linhas, menos ou mais); procurar num dicionário as palavras desconhecidas, ler o texto três ou mais vezes, voltar ao texto tantas vezes quanto for preciso, perceber as ideias.
A má interpretação de um texto, esquecendo, por exemplo, os sujeitos ou complementos directos, pode levar a erros graves que prejudicam o entendimento, quer solitário, quer colectivo, quando ele é, por exemplo, partilhado numa crónica ou numa qualquer notícia de jornal.
Figuras de Estilo. A lista de figuras de estilo é imensa para se escrever em português – seja notícias, crónicas, croniquetas, poemas ou romances. Há a metáfora, a aliteração, o pleonasmo ou a hipérbole, por exemplo, além é, claro, da “famosa” metonímia…que muitos julgamentos prévios pode provocar.
Ora, através desta figura de estilo designa-se uma entidade implícita através de outra explícita. Exemplificando, se aquilo que se lê é: “ O Governo Regional vai iniciar uma série de reuniões com as Câmaras Municipais das ilhas de S. Miguel, Terceira e Faial” não vale a pena fazer logo uma série de extrapolações.
Afinal a ilha de São Miguel tem, como se sabe, seis autarquias: Nordeste, Povoação, Vila Franca, Lagoa, Ribeira Grande e Ponta Delgada; a Terceira tem duas: Angra do Heroísmo e Praia da Vitória e o Faial tem uma: Horta. Para quê inventar, então? E logo interpretar, por exemplo, que o Governo vai reunir com umas e não vai reunir com outras? Que vai à Vila, mas não vai a Ponta Delgada, que vai à Horta, mas não vai ao Nordeste? Das duas uma ou é má fé ou é distracção. Aposto mais na segunda hipótese. É da (minha) fé…
Niemeyer. E, por falar em fé e fazendo-a: li uma notícia divulgada a semana passada no jornal Público, que dava conta da visita de Niemeyer a Espanha para a inauguração do Centro Cultural de Avilés, nas Astúrias. A fazer ainda (mais) fé na mesma fonte que admitia que a seguir, o arquitecto virá a Lisboa para aferir se há interesse em retomar o projecto concebido em 1999 para dar corpo à sede da Fundação Luso-Brasileira, é caso para se perguntar porque é que não se fala dos Açores na notícia? (sim, Açores, com Ponta Delgada, incluída).
Hipérbole minha ou tudo isto não passa de uma grandiosa e gigante Analepse? O título da notícia sobre o assunto é: “Niemeyer pode vir a Lisboa terminar único projecto em Portugal, parado desde 1999” e saiu no mencionado jornal, a 23 de Julho do corrente.
Jorge Nascimento Cabral. A notícia do falecimento de Jorge Nascimento Cabral apanhou-me perfeitamente desprevenida. Não estava à espera de o ver desaparecer tão cedo do nosso “convívio”, de entre o povo açoriano…
Porém, a vida tem-me ensinado ao longo destes anos, e das partidas que me tem pregado, que às vezes a justiça não se faz, com a verdade que esperamos receber. Na RDP/Açores, na manhã de sexta-feira, ouvi o jornalista Sidónio Bettencourt, dizer de Jorge Nascimento Cabral (citando Paulo Martinho) que foi pessoa que “nunca viveu em paz sujeito”. Nada o define melhor, permito-me dizer, com a certeza do que pude apreciar ao longo do nosso tempo comum.
Leitura de férias. De Pedro Paixão. “Os corações também se gastam”. Um livro de contos sobre a vida em geral e os sonhos em particular. Muito pouco, ou mesmo nada pretensioso, como são na sua maioria, os livros deste autor. Capa em cartolina prateada, simulando um espelho, onde foi escrita a baton, a frase que dá título ao livro e, por empréstimo, à minha crónica de hoje.
É, porém certo e avisado, que sem ironia, esta frase aqui se usa, apenas e só, como uma metáfora. E por agora despeço-me fazendo votos para que os corações gastos se renovem nos banhos de mar, já que para os agastados não parece haver solução.
Até mais logo. Boas férias.

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