Com o plenário de Julho, terminou mais uma sessão legislativa do nosso Parlamento. Ao nível mediático, este ano parlamentar ficou marcado pela comissão de inquérito ao processo de construção dos navios de passageiros Atlântida e Anticiclone.
Em primeiro lugar, é importante destacar que esta comissão terminou os seus trabalhos dentro do prazo de seis meses estabelecido, tendo em conta o grande caudal de documentos para análise, as várias audições efectuadas e a elaboração e votação do relatório final dos trabalhos.
Porque uma comissão de inquérito não é um expediente normal, importa, por isso, tecer algumas considerações na perspectiva de quem acompanhou este processo.
Retenho uma ideia-chave do final dos trabalhos: o PSD entrou para esta comissão com a ideia fixa de fazer um julgamento sumário do Governo Regional e saiu, no final da comissão, sozinho e agarrado a uma expressão solta de um relatório de uma das partes interessadas neste processo. Mais nada.
Assistiu-se a um PSD isolado nas votações, estranho na relação com os outros partidos presentes na Comissão de Inquérito e sempre sobrepondo a sua estratégia partidária ao interesse comum do bom funcionamento dos trabalhos. Aliás, ficou a ideia generalizada de que o PSD utilizou esta comissão de inquérito como se de um comício partidário se tratasse.
Uma comissão de inquérito, quando está em pleno funcionamento, não é compatível com ameaças de recurso a instâncias judiciais, com quebras de acordos aprovados por unanimidade e pela falta de lealdade institucional. Tudo isto mostra bem o espírito com que o PSD encarou este processo.
No final disto tudo, é legítimo pensar-se que o PSD, apenas e só, trabalhou para o “soundbyte” do final do dia. É pouco, muito pouco, para quem, nos últimos anos, assentou toda uma estratégia política nos transportes marítimos de passageiros e acabou isolado, repetitivo e acossado.
O PSD está a sentir a síndroma do apostador que se apercebe que esteve, repetidamente, a apostar no cavalo errado. Está a experimentar um sentimento de vazio. Não foi por falta de aviso.
Com o sol de Verão (finalmente) à porta e as férias a passar ou a chegar há mais tempo para ler. Por isso e para não variar deixo aqui uma sugestão de leitura de férias. Esta semana escolhi de Herta Müller: “ Tudo o que eu tenho trago comigo”, numa edição da Dom Quixote.
Trata-se de uma obra passada no fim da Guerra, na Polónia, em 1945. A história foi escrita a partir de conversas que a escritora manteve com sobreviventes dos campos de trabalho.
A crítica literária internacional tem dito que a escrita de Herta Müller se distancia e muito da “plantinha mimada” a que nos habituou grande parte da literatura alemã contemporânea. Não deixa de ser porém mais uma forma de narrar este capítulo da história mundial.
Termino com uma das melhores frases de António Lobo Antunes, que nos recomenda que: “Devemos fazer tudo o mais simplesmente possível mas não mais simplesmente do que isso.” (título de uma crónica da Revista Visão. Publicada em Novembro de 2009).
No final, não será por falta de aviso…também.
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