terça-feira, março 30, 2010

Esta não é uma crónica sobre os coelhos da Páscoa




Não é uma crónica sobre os coelhos da Páscoa, embora a época, o gosto dos gulosos por mais um chocolate ou até as hipóteses de puxar um mamífero orelhudo da cartola pudesse agradar aos leitores e, por isso, fazer com que fosse sobre os coelhos da Páscoa esta crónica.
O lado bom da liberdade de escrever uma crónica é esse mesmo. Será sempre o que quisermos.
Não se escreve para que todos concordem. A história clássica prova a quem quiser saber entendê-la, que o cavalo de Tróia foi uma invenção espectacular, que Eneias foi um herói e que Remo foi efectivamente encontrado numa cesta, juntamente com o irmão, para além de terem sido, os dois, criados por uma loba.
Bem, mas como esta não é uma crónica sobre os coelhos da Páscoa ou mesmo sobre os anões da Branca de Neve, embora pudesse ser, bastando para isso, que eu quisesse que fosse, vamos ao que interessa.
O fim-de-semana que passou ficou marcado pela eleição de Passos Coelho para Presidente do PSD.
Por cá, as raras manifestações de apoio que antecederam a sua eleição transformaram-se, de repente, numa enorme onda de apoio. Parecia que nada do que não se tinha dito a propósito disso acabava por ser agora revogado.
É que se em Novembro se esperava uma tomada de posição da Presidente do PSD/Açores, logo se avisou que a definição do apoio estava, ela própria, à espera da definição dos candidatos e daí para o silêncio foram dois passos. Silêncio. Até Sábado.
Sábado, dia 27 de Março, solicitado o comentário sobre a eleição de Passos Coelho, a entoação das palavras de Berta Cabral dava a ideia de que aquela sempre tinha sido a sua escolha, pondo-se fim, a uma situação caricata que finalmente sucumbia.
E foi ver e ouvir o que nunca se ouviu. Resta agora esperar que o tempo que é bom julgador e bom conselheiro, também diga por quantas cenas mais, esta plateia, aguenta o acto da epopeia, que começou no Dia Mundial do Teatro?
Certo é que os mesmos de sempre, quais personagens da literatura medieval, provençal ou mesmo realista (no que o Realismo ofereceu à Literatura, ao seu tempo) lá estiveram, sem as pancadas de Moliére, descoordenados,“saltitando” de palco em palco, como palpites.
Pode dizer-se que o facto de ter havido declarações de apoio, depois da eleição, no Dia Mundial do Teatro foi uma coincidência? Claro que se pode. Mas, não parece…
Esta não é, obviamente, uma crónica sobre os coelhos da Páscoa. Embora, pudesse perfeitamente ser…Não seria a mesma coisa, como dizem os comediantes. Concordamos.
Podia também ser uma crónica sobre a demagogia, que tantas vezes se sobrepõe, nos textos que lemos, ao que os seus escritores queriam dizer.
Por isso mesmo, se por acaso no meio das linhas encontrar uma cesta de ovos, creia que é um brinde bom. Já não há lobas capazes de criar crianças, como na história clássica se contava e eu disse aí linhas acima. Mas, nunca se sabe o que se pode encontrar no meio das frases.
Às vezes só uma palavra vã, outras vezes um significado. Não raras vezes uma rã aos saltos e bolas de sabão, que lhe dão a ela (à crónica, claro) um ar de fantasia.
E como o mundo está cheio de seres fantásticos, esta não é uma crónica sobre os coelhos da Páscoa.

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