Uma Oportunidade...
Muito se tem discutido as razões da crise internacional que vivemos. Discutimos o número de falências, os prejuízos dos bancos e das empresas, o perigo da deflação na economia, as estatísticas da competitividade, os novos projectos de investimento que irão fomentar o crescimento económico. Ou seja, temos analisado, e bem, todos aqueles indicadores e projectos que nos permitem aprofundar o conhecimento da situação económica e social que vivemos.
Mas existe outra dimensão da “Grande Recessão” internacional em que vivemos, que pouco tem sido discutida e que tem de ser obrigatoriamente denunciada. Refiro-me à dimensão social e moral.
Quando uma corporação inteira de Polícia e de Bombeiros, nos EUA, perde irremediavelmente o direito à reforma, porque o estado investiu todo o seu fundo de pensões em activos tóxicos. Quando famílias inteiras, sérias e honestas, que devido ao desemprego da crise, falham 2 prestações da sua casa, pela primeira vez em 30 anos, e são despejadas sem aviso prévio compulsivamente. Quando temos uma nova geração de desempregados, sem habitação, sem dinheiro para porem os seus filhos na escola ou para pagarem despesas de saúde. Quando os bancos emprestam dinheiro para compra de habitação a pessoas desempregadas, sabendo de antemão que elas não podem pagar, para jogar com este empréstimo na bolsa através de paraísos fiscais. Quando temos casas boas, leiloadas a 1 euro, devido à perversão e ganância do sistema capitalista. E quando os gestores destas mesmas instituições, responsáveis por todo este descalabro, recebem ordenados milionários e bónus de milhões de dólares. Alguma coisa vai muito mal no sistema social que criamos no mundo ocidental. Faz-me pensar, que esta crise não tem uma resolução técnica global. Mais investimento, mais nacionalizações, mais compra de activos tóxicos são “aspirinas” para resolver uma “pneumonia”. Temos de mexer, sem margem para dúvida, na componente ética e moral do capitalismo. Temos perceber, que não existe criação de riqueza, a partir do nada. Os Estados têm de definir as regras de funcionamento dos mercados e intervir nos mesmos se for necessário, sem pudor de qualquer espécie. Mais competitividade sim, mas sem nunca mercantilizar os direitos sociais fundamentais dos seus trabalhadores. O fenómeno pior desta Globalização é a procura da competitividade à custa dos sistemas sociais nascidos após a Segunda Guerra Mundial. A oportunidade que esta crise nos trás, é a de poder aproveitar o fenómeno da economia global para generalizar os direitos sociais e criar um conjunto de normas éticas que restabeleçam a confiança num sistema económico, que bem domesticado, foi responsável, em 100 anos, pelo maior desenvolvimento social da história da Humanidade.
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