"E um dia os homens descobrirão que esses discos voadores estavam apenas estudando as vidas dos insectos..." Mário Quintana
terça-feira, fevereiro 17, 2009
Leio
"Se me comovesse o amor como me comove
a morte dos que amei, eu viveria feliz. Observo
as figueiras, a sombra dos muros, o jasmineiro
em que ficou gravada a tua mão, e deixo o dia
caminhar por entre veredas, caminhos perto do rio.
Se me comovessem os teus passos entre os outros,
os que se perdem nas ruas, os que abandonam
a casa e seguem o seu destino, eu saberia reconhecer
o sinal que ninguém encontra, o medo que ninguém
comove. Vejo-te regressar do deserto, atravessar
os templos, iluminar as varandas, chegar tarde.
Por isso não me procures, não me encontres,
não me deixes, não me conheças. Dá-me apenas
o pão, a palavra, as coisas possíveis. De longe."
Francisco José Viegas
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2 comentários:
Bela escolha! É um dos meus favoritos do Francisco José Viegas, que na minha opinião tem na poesia a sua veia maior, ainda que poucos o conheçam como poeta. E é pena.
"[...]Poesia fácil, prosa quase; a música vem da sua melancolia
e não da aritmética sentimental, daquelas palavras
(sangue, grito, coração, litoral). Mais de um halo,
do sopro dos pinhais, dos destroços de um amor de toda a vida.
Desengana-te acerca da poesia, da elevação,
da circunstância, fala apenas - como os antigos - da aventura
de um solitário entre ruínas, levantando as pedras,
reerguendo muros, contando o número de vítimas. [...]"
in: Francisco José Veigas, Se me Comovesse o Amor, Quasi, 2007.
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