José Manuel dos Santos chegou a casa, sozinho, como sempre. Por detrás da porta o tapete de estopa, oferecido pela Celestina, anunciava um olá cismado, pintado a azul com um longo e largo ponto de exclamação. Sempre que entrava em casa, desviava o olhar do tapete, mas pisava-o, com força, como se estivesse a pisar mais do que o tapete de estopa oferecido pela Celestina, que era tão ou mais cismada que o olá do tapete. Fez o jantar rápido; umas torradas recheadas americanas de levar ao microondas; leite com chocolate, marca continente, duas bananas e uma fatia de queijo. Em cima 4 ou 5 cigarros e café frio.
Sentou-se no sofá de olhar cismado. Pegou num papel branco, canetas de cores diferentes e desenhou duas árvores, uma casa a meio, duas pessoas, uma terceira ao longe; à porta da casa, um tapete de estopa, debaixo do tapete um bilhete, a ver-se. No canto do papel escreveu olá; no outro canto Celestina; no outro canto vou-me embora; dobrou o quarto canto e foi-se deitar: em sonhos, procurar o quinto canto: tornar-se Adamastor. Passou pela porta de entrada, pegou no tapete de estopa virou-o ao contrário; do lado do avesso só linhas. Não escreveu nada. Roubou o bilhete. O bilhete dizia: olá, cismado!
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