...
Ou como quem dá de comer a esfomeados sapatos;
Ou alça as pernas para o futuro;
Ou senta os olhos na janela e os cola no parapeito;
Ou fica pasmado à espera que alguém bata à porta;
Ou cobre os dedos cruzados fazendo figas de vontade;
Ou soluça em tom ritmado, por morrer em plena praça;
Ou inchado, podre, pérfido desmaia no meio da avenida;
Ou soprado como um saco dá com a asa no destino
Ou, imprudentemente, deixa deslizar os pés à beira de um precipício, rasgando de desilusão outro limite do céu;
Ou como quem vai de vez sem saber se vem de volta…
...
Nem sabendo se de noite nem sabendo se de dia…
...
Ou como ter escrito o pouco do que ficou por dizer;
Ou ter do peso a justa medida do embaraço;
Ou querer de noite a luz que é do dia 20;
Ou ser mais do que isto e ver mais do que aquilo;
Ou dar a volta ao mundo com bilhete de ida;
Ou não completar o verbo do incompleto;
Ou rimar sem versos cheios;
Ou falar sem palavras;
Ou fazer ditongos no espaço;
Ou morrer devagar...
...
Nem sabendo se de noite nem sabendo se de dia...
Ou (ainda) se de tarde...
Ou se à tarde,
Ou se (já) se faz tarde.
[Juntiva]
6 comentários:
Isso é um poema ou uma receita de cozinha?
Muito Bonito....
Parabéns
Rui Goulart
Nem sabendo se de noite nem sabendo se de dia...Boa imagem, méri. Isto não é um poema nem uma receita de cozinha. :) Bj.
Afonso
Muito forte, construindo imagens muito sugestivas, e poético. Uma receita, sim, para aliviar a dor da falta de ideias.
Aquele Widget TV Net é fantástico.
MM continua excelente...só pela frase "..dar a volta ao mundo com bilhete de ida.." já seria magnifíco.
Saudações atlânticas
João Coelho
Enviar um comentário