Já não me recordo dos termos em absoluto, mas ainda tenho presente na memória uma intervenção do Presidente Carlos César, proferida há já alguns meses, na qual reafirmava que o Partido Socialista não seria uma coutada do Governo Regional, nem o Governo alguma vez poderia ser uma coutada do PS.
Deduzo das palavras de Carlos César que, para além de um exercício de poder autónomo e responsável, a necessária separação das águas entre partidos e governos visa, sobretudo, reforçar a dignidade que se exige dos políticos, reanimar a consideração que nos devem merecer as instituições e ter em permanência e em devida conta o respeito, muitas vezes em falta, para com os eleitores.
Se por estes e por outros princípios se pretende contribuir para evitar a promiscuidade na política e reforçar a credibilidade tão essencial nos seus agentes, seria de esperar que a mesma separação de interesses se aplicasse à relação entre outros níveis da actividade política – a exemplo do que se verifica no jogo de conveniências entre o PSD e algumas autarquias da mesma cor – quanto à composição das listas de aspirantes a deputados à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores.
Qualquer eleitor minimamente informado sabe que a candidatura de Berta Cabral à ALRAA é uma farsa, uma fraude partidária assumida publicamente pela própria e garantida pela sua pretensão de se recandidatar à Câmara de P. Delgada em 2009. Neste caso em concreto, o desplante já não disfarça a fragilidade do partido nem a fraqueza da liderança, daí que dificilmente se entenda esse lançar mão à influência da autarca para, em consciência, ludibriar o eleitor e, em consequência, descredibilizar a política.
Porém, noutras autarquias dos social-democratas, casos há em que a situação é exactamente a mesma, só que desta vez se engana o eleitor por proveitos diferentes e mais personalizados. Ou seja, são os autarcas em agonia a usar o partido e a abusar da sua condição pública para figurarem em lugares elegíveis nas listas à ALRAA, garantindo por essa via o tacho e o futuro em caso de derrota nas eleições de 2009.
Nas duas circunstâncias referidas os benefícios são pessoais ou do restrito grupo dirigente. Nada é feito nem pensado sequer, tendo em mente um gesto ou uma atitude que vise a primazia da Região ou um contributo para melhoria de condições de quem aqui vive. O que os move na sua ubiquidade é o medo da úbere perdida e, por isso, nada melhor do que ter um pé na autarquia e o outro na Assembleia, se bem que o povo possa ver neles gente de perna curta para tão longa “esparragata”.
Dito isto, ao sentido das palavras de Carlos César, que inicialmente refiro, é justo atribuir-lhes o merecido peso e crédito na diferenciação que faz entre a militância partidária e a militância social, porquanto o Partido Socialista testemunha, na prática, a sua consideração pelos eleitores, o seu respeito pelas instituições e o seu carácter no exercício da actividade política, já que não incluiu nenhum autarca, em nenhuma das Ilhas, nas suas listas de candidatos à ALRAA.
Não vale a pena o PSD falar em mudança quando ele próprio é incapaz de mudar, porque os Açorianos sabem que só mudando primeiro se pode mudar depois os Açores para melhor.
Foi isto que o PS fez e é isto que o PS faz.
Curiosamente e após tantos anos de experiência, é isto que o PSD continua sem saber fazer.
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