sábado, setembro 06, 2008

CADA VEZ “MAIS PIOR”




Imagino que a estratégia eleitoral do PSD seja, em parte, produto do pensamento político e do objectivo partidário da sua liderança. Ajuizando os factos deste ponto de vista, tudo me leva a crer que a ambição máxima dos dirigentes laranja, de acordo com os seus parcos desejos para os Açores, não vá muito além do recosto e do repouso nos tradicionais "lugarezinhos" no parlamento açoriano.
As intervenções orais e escritas de Costa Neves deixam, de facto, enormes dúvidas sobre a utilidade do seu pensamento político e sobre existência de causas no seu partido, se é que uma e outra coisa existem. Vamos por partes:
Costa Neves continua a gerir o PSD como o Portugal colonial geria o corpo de engenharia que, ao tempo, tinha na Índia. Diz-se que eram vinte os oficiais sem um único soldado para amostra. De sorte que o melhor mesmo era não ter ideias nem pensar em obras porque engenheiro que se prezasse rabiscava, mas não petiscava. O resto é o que nos fala a história: como Portugal nunca se livrou do traço elitista dos seus engenheiros, a velha colónia acabou por se livrar de Portugal. Parece-me, assim, que salvo as distâncias e as circunstâncias, a dificuldade na liderança social-democrata é da mesma ordem, ou seja, como o líder não consegue acertar o passo ao seu “estado-maior”, os militantes vão mudando de partido, até ao inevitável dia em que alguém mude Costa Neves.
Mas como o mal vem sempre bem acompanhado, ao coçado e roçado slogan do “Melhor é possível” o partido e o líder laranja tendem a confluir o adverbio “mais”, designativo de aumento de grandeza ou de comparação, para o adjectivo comparativo se superioridade “melhor”. No fundo, bem lá em baixo, entenda-se, Costa Neves pretendia apenas sugerir que ele e os seus vinte “oficiais” seriam capazes de fazer “mais melhor” do que fez Carlos César com o apoio dos açorianos. Não fosse, claro, o pormenor de cada um dos seus graduados, à semelhança dos nossos engenheiros na Índia, ter um projecto pessoal e ainda por cima divergente dos restantes. Por outras palavras, o PSD segue à tabela e à risca a estratégia de acrescentar água à sopa, para repetir a mesma dose, na mesma malga e aos mesmos convivas, sem alguém se dar ao trabalho de, ao menos, mudar a receita, que é como quem diz, de fazer diferente a pensar nos Açores.
E assim, se o governo de Carlos César faz uma estrada, o PSD acrescenta-lhe mais dez metros na intenção; se Carlos César inaugura uma biblioteca, o líder da oposição acha que lhe faltaram dois livros e se Carlos César aponta novos caminhos para a Autonomia, Costa Neves mede-lhes as distâncias e, sem pestanejar, anuncia que lhe falta oxigénio.
Ora, como apresentar ideias diferentes e concretas para os Açores parece um meta inacessível ao PSD, nada melhor do que plagiar as ideias referidas nas intervenções do Presidente do Governo, acrescentar-lhes um algarismo, um metro ou uma vírgula e se dúvidas houver que se lhes aponham reticências, que neste tempo e deste modo aos rotineiros procuradores da oposição resta por a língua de fora às propostas alheias, já que os proveitos da trupe dirigente estão garantidos pelo fácil acesso ao parlamento.
Com a limitada ideia do “Melhor é possível”, mesmo sem saber como, o líder laranja, disfarça a ausência de causas, esconde que não tem objectivos para os Açores e evita o trabalho que dá “ser diferente”. Talvez por isso já se diga que esta fleumática brigada do PSD passa despercebida em silêncio, mas quando abre a boca repete-se, enfada-se e cansa-nos, a confirmar que a oposição está pior…e cada vez mais.

4 comentários:

Rui Coutinho disse...

Caro Hermenegildo.
Bem sei que este é o tempo de falar destas coisas da política e das estratégias.
Pois bem, falemos delas.
Claro que o PSD tem pouco que dizer, sobretudo quando a Dra. Berta Cabral desautoriza o Dr. Costa Neves em plano átrio do tribunal de P. Delgada.
Mas, em matéria de estradas e obras não são os quilómetros, são as escolhas. A via "verde?" para a Fajã do Calhau é uma mancha negra; o cais de cruzeiros para Angra do Heroísmo é a sério ou a brincar? Com um porto oceânico na Praia da Vitória (cujas reparações têm custado milhões ao erário público), esta promessa/compromisso não é tão necessária como uma doca para zepelins no Pico da Vara?
Não será possível melhorar ou, pelo menos, ponderar?

Um abraço

H.Galante disse...

Caro Rui,
Claro que há sempre obras, intenções e até estratégias a ponderar, e nem digo, sequer, que todas as escolhas tenham sido as melhores.O que digo é que, pelo menos de vez em quando, uma observação inteligente ou uma opinião formada e séria sobre o que quer que fosse, vinda da oposição, não matava ninguém.
Abraço.

Anónimo disse...

Estas são naturalmente questões muito bem postas.
Mas atendamos ao que se fez.
Umas portas do mar depois de ter uma marina. Pra quê?
Um terminal de cruzeiros dentro da baia de Ponta Delgada. Pra quê, com o porto ali ao lado.
Uma via rápida para a Ribeira Grande e uma autoestrada paralela, distando uma da outra menos de 5 km. Pra quê?
Uma autoestrada para a Lagoa. Pra quê?
A construção de SCUTS para o Nordeste. Pra quê?
Todas as empresas públicas regionais com sede em Ponta Delgada. Porquê?

Não encontro respostas. Nem para estas questões nem para o terminal de cruzeiros em Angra. Talvez o Sr. Rui Coutinho saiba.

Uma coisa é contudo certa. Todos os açorianos devem exigir a Lisboa mais descentralização. Quando internamente, entre si, não inteligencia para fazer mais do que centralizar.

Hermelindo Toste

Anónimo disse...

Se calhar, Sr. Hermelindo, porque a economia e o mercado se regem mais por factos do que por teatros.