sábado, novembro 25, 2006

Post-(it)


daqui


As bonecas de saia verde e anel de diamante parecem “paragens de afecto”, raízes de tempo. Encaixadas na sua função decorativa são como os recados e as coisas que ninguém diz, mas deixa, como promessa, escrita em papel amarelo, a que hoje, chamam pomposamente Post-it. It. Não hit. (Esses são para as estrelas). Papéis amarelos com cola; de vários tamanhos. Amarrotados são casacos de palavras de manga curta e bainha por fazer, onde os nossos olhos podem, ou não, procurar a solução. Se existe.
O gato Puma entretém-se na sua função de observador. A ser verdade que os gatos pensam podia jurar que, como o outro da história, me esconde uma gaivota algures no jardim. Uma pequena, a quem ensina a voar. Uma, a quem deixa bilhetes, como sinais, escondidos entre os jornais da semana.
Eu nunca escrevi uma carta num post-(it) ...
Mas hoje, quase que o podia fazer; não fosse a ideia, quase certeira, que tenho de que daqui a bocadinho, o Puma vai finalmente apresentar-me à sua dama, a quem dá aulas de voar na minha Ausência.
Post (it):
Falando a sério, tão a sério quanto me é possível a esta hora. Não sei da distância dos amparos. Não creio que, na passagem de testemunho, as nossas ideias possam, sequer, desfrutar de mais alguma coisa.
Sei que há bonecas nas prateleiras, que elas são Teoria de qualquer coisa, indefinida quase nula. Está frio hoje. Talvez mais do que seria de esperar.
Há qualquer coisa aqui, que bate asas, que as bate devagar e voa.
Pode ser a gaivota do Puma ou, quem sabe, um anjo.
E, no fundo, era do do anjo que eu vinha falar.
Mas, nunca me dei bem com estas coisas...

Por isso, Post-it:
"Boa noite, eu vou com as aves"
(Eugénio de Andrade, último verso do Poema à mãe)

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