quinta-feira, julho 06, 2006

Croniqueta XXXIV ou o Fífia leva à Festa uma coroa que toca música...



Ontem, depois do Futebol, enrolado numa brilhante Bandeira de Portugal, qual repolho ou Couve-de-Bruxelas, o nosso Fífia saltitou alegremente pelas ruas da cidade gritando pela nação em todas as ruas por que passava. Ele era Figo, Ricardo, Pauleta; arrastando as últimas sílabas como se fosse um assobio daqueles desafinados que, antigamente, a Menorquina, vendia com gelado dentro. Assim, esteve nosso Fífia.
Na avenida, ao pé da coroa gigante, tirou retratos e disse-se: “Rei”. Ali sentiu, em plenas Portas da Cidade, a emanação do Império e chorou…comovidamente abalado com a visão de si mesmo…Apesar, disso, sentiu-se sozinho. Queria ser Rei com, pelo menos, mais 80 pessoas à volta.
O sonho do Fífia é ser Rei, quiçá com um nome francês ou inglês, daqueles que ditos parecem prosaicos; daqueles que soletrados lembram chocolate ou qualquer coisa doce; ter um nome que pronunciado, de rajada, a sibilar, entoe um cântico qualquer ao ouvido de quem ouve; um nome que encha paredes e almas de pessoas; um nome que escrito pareça uma pena em voo ou uma flor a nascer num campo despido de erva.
Ontem, na avenida, enquanto os carros rumavam a casa, tristes, o nosso Fífia, enrolado na bandeira de Portugal, qual rebuçado de açúcar, sonhou, nem que fosse só por um dia, poder ter a cabeça suficientemente grande para poder enfiar aquela coroa gigante. Ainda por cima iluminada. Ganhava logo dois pontos. Tornava-se Rei e Esperto. Se calhar Inteligente. Podia que, assim, arranjasse uma namorada; podia que ela quisesse dividir com ele um castelo no reino; um castelo que tivesse ameias, de onde ele pudesse gritar todas as manhãs ao povo: senhoras de aventais e toucas na cabeça, crianças de pés descalços e homens guiando vacas. Uma delícia; um bucolismo, a que só ele, daria cor, acção e fala. O Fífia e a sua esposa. Como gostava. Porém, já que a coroa não lhe serve, porque grande demais; ele não desistiu e para o Domingo, a mãe, as vizinhas costureiras e a tia, vão adaptar-lhe um boné, e torná-lo em forma de coroa. As senhoras não querem que ele destoe dos outros famosos na festa e quando chegar às portas da cidade, a dele ainda vai ser melhor, porque, dadas às mecânicas, as vizinhas e a mãe, vão fazer modos da coroa do Fífia tocar música. Ele, claro, não cabe em si de contente e é vê-lo pendurado na varanda do quarto, onde elas costuram, curioso por ver essa caixa de música, em forma de coroa, que vai usar para a festa. Será Rei, o Rei da festa. Uma coroa com música e uma ventoinha. Uma coroa que dance. Uma coroa que entoe o Hino do Espírito Santo: “Alva pomba que meiga aparecestes (…).”*
Fará parar as pessoas no trânsito; será beijado por todos e, quem sabe, se no Domingo não vai haver lá por baixo, um lugar com ameias, de onde ele possa gritar: Povo! Povo! E o Povo lhe responda: “(…)Que os querubins vos elevam, Senhor (…)”*
E ele no alto, elevado, pelos querubins, levado em braços, todo vestidinho de branco pérola, qual ave da paz, levando na cabeça uma coroa a tocar música, toda brilhante; de manto de Rei às costas. Assim vestido pode que, até, se torne Santa Isabel, mas não faz mal.
A hipótese, ainda que remota, agrada-lhe. O que interessa é ser Rei ou Rainha; o resto.Tanto faz. Para ser da Monarquia, o Fífia é capaz de tudo. A mãe, a tia e as vizinhas também...

* Excertos do Hino ao Espírito Santo

4 comentários:

JNAS disse...

Excelente croniqueta. Um primor de escrita com uma elevada dose de humor e sátira elegante. Gostei imenso.( Cara Mariana pq. razão não é possível fazer copy paste dos teus posts ??? )

Mariana Matos disse...

Não é possível fazer copy paste. É tudo uma questão de programação do Blog. Just that! Mas porquê, João Nuno? :)

Rui Goulart disse...

Mariana, já desves saber que estou fan destas croniquetas.

Mariana Matos disse...

Obrigada Rui. :)