quarta-feira, maio 24, 2006

Croniqueta XXVII ou o Fífia parece uma ode; é prosaico e irritante...




O Fífia é prosaico. Deitado parece uma quadra; em pé um verso; uma redondilha; uma estrofe. De costas: uma ode, uma oração, uma canção de engate, disfarçada, (e mal) por um cabelo monumental, qual estátua de Zeus ou Ulisses. Nunca Baco (ai é pecado!).
O nosso Fífia é de repente, sem tirar o gosto à prova, um arrebatado poeta, em cujas linhas mora a pouca idade para versos; dado que, para lhe subir o grau de maleitas, a boca lhe escorregue quase sempre para a verdade, quando de pena em punho e papel dobrado em quatro (para experimentar quatro vezes) lhe saem rimas como laranjas de cestas pouco apropriadas, porque sem asas…Não voam. Caem e morrem; saltitantes nas entrelinhas dos livros sobre os quais discorre; molhando o polegar; sempre que vira a página na sua boca cavernosa; onde vê sombras dos dentes que, ao longo dos tempos, foi perdendo, por cada audácia cometida. Da vida, dirão os clichéticos do costume; enquanto todos os outros Fífias, espalhados pelos salões da cidade, fumando cigarros e cigarrilhas, charutos e outras coisas, se entretêm buscando nas artes fífadas a desculpa para a sua inércia; para a sua apoquentação dos decassílabos; dos sonetos e da triangular inventiva da "Cóltura" como adiado tempo de ser qualquer coisa na vida. Um entretenimento. Buscam-lhe posses; disfarçados de críticos literários, de carrapitos nos altos dos cocorutos e chaves metafóricas, argumentadas em cadernos de argolas, cujas margens abrigam fracassos de literatos em busca do agasalho das letras. Será que ainda não deram por isso que o acento circunflexo não é um chapéu?, que entre a vírgula e uma sopa há uma enorme diferença ou então que um til em cima de uma cenoura não faz com que ela fique moída?! Desesperados. Fartos, mas não suficientemente corajosos para agarrar na corneta e tocar a sinfonia. Não. Os Fífias "cóltorais" são de outra louça. São feitos de rascunhos; de traços; de fases como a luz, só que, a olho nú, vê-se logo, não se acendem. Longe. Muito longe dos iluministas; do Sturm und Drang alemão, das tertúlias de café, dos verbetes; das lógicas rituais do Surrealismo ou, tão só, do Renascimento. Não renascem. São sempre iguais. Soam a esgotado; fora de uso e de moda. Antiquados.
O Fífia "cóltural" é um sujeito de poucas amarras; mas laços fartos, aonde procura o “plural académico”, como se, numa busca de google descobrisse, num instante, a tese da sua vida; para dizê-la aos amigos e dobrá-la, de lombada virada para fora, na estante de madeira que comprou para a sua casa; o Fífia "cóltural" diz, com frequência, “sic”, “apud”, “etecetera”, fala francês. Não toca piano. O Fífia "cóltural" confunde Popular com popularucho, mas mesmo assim, não se priva de tecer comentários sobre as letras maravilhosas de Clemente, esse poeta maior do século XXI, exclama, enquanto nas Barracas do Senhor Santo Cristo, compra cassetes do ídolo. Herdeiro de um antepassado glorioso de ventos e dores fortes atravessando marés, o Fífia é mão embaraçada; cara de constipado e teimoso de espinha a espinha.
Com ele, um coro de Fífias aparece logo para defender os heróis das letras melodiosas; de programas devidamente expansivos, onde vão todos, os maiores, ao lugar de cultura maior, ouvir o maior dos maiores. Em Adjectivo, o Fífia é dos maiores. Todos juntos, lembram sacos de plástico, que como os cestos, não têm asas, tendo por isso o destino de “voar baixinho”. Gosto, Estilo, Vontade e Sentimento Próprio, mesmo que enumerados em mais do que uma antologia poética ou, mesmo enunciado, pelos professores das universidades onde tiraram os cursos (com livros amarelos da Europa América) não entram no léxico dos Fífias "cólturais". Afinal de que vale isso se, sentado à secretária, parecendo uma Farsa, um Auto, uma Tragédia ou quiçá um Romance de Cordel, se pode ser o maior e o melhor Fífia cóltural? Um sujeito de ar clássico; uma espécie de carril de linha, em cujo azul prateado adormeceu, no dia em que nasceu, o gosto pelas coisas simples. O Fífia é um adjectivado e mais nada.


Post-Scriptum O Fífia vai de férias.
Não quero que se torne mais irritante; pocinhento; cruzes credo uma ode repetitiva, um poema mal acabado; enfim uma obrigação...Obrigado já é ele a ser Fífia toda a vida...

4 comentários:

carlos disse...

Espero que o Fífia volte no próximo ano lectivo.

Mariana Matos disse...

Se calhar antes. O Fífia não dá aulas; dá conselhos...

Anónimo disse...

Cool blog, interesting information... Keep it UP » »

Anónimo disse...

That's a great story. Waiting for more. » »