quarta-feira, maio 03, 2006

Croniqueta XXII ou o Fífia calça meias plim plim: até aos 20 é de príncipe; daí para cima é de Rei!!!




O Fífia sai à rua na sua meiazinha “plim-plim”; uma marca nova de meias, cujo lema é: “meias plim-plim e o seu pé fica assim” e depois aparece um pé a dormir numa alcofa de príncipe. Calçado, o Fífia, que já ultrapassou os 40 anos, julga que é Rei, dono de castelos e campos, herói e senhor de montes verdes e florestas de encantar com princesas, aias e aios. Depois de “loiro, gordinho e rosado” como no poema de Pessoa (com “p grande”, como se diz na gíria); o nosso Fífia diz-se hoje Rei; anunciador de um novo mundo, coberto por raízes de vida. Feudal. O nosso Fífia é feudal. De bico no ar; olhos abertos como um garajau; lembra um cabide de salão de baile: quando há festa está enfeitado por belos casacos de pele e tiras brilhantes de pano, que as senhoras enrolam nos pescoços delgados, deixando cobrir sinais pouco abonatórios das suas reputações; quando não há festa está o cabide nú da base aos braços. Despido como uma árvore em pleno período outonal…Mas adiante! O Fífia, cuja eira e beira começa e acaba numa rua normal da cidade dessas com passeios desenhados e lixo pendurado na porta, sem mal nenhum entenda-se, gosta de se armar; em cima das meias plim-plim calça sapatos de fivela e veste fatos de chiffon, porque brilhantes lhe dão um ar de poeta renascentista em espectáculos de praça. Quando fala e vê os holofotes das luzes do “show”, como diz; parece uma esponja de cozinha, das que são verdes por cima, aonde no meio do brilho do sabão, se vê bolhas de espuma. Nele são, apesar do grotesco da imagem, salivas que brotam do contentamento de ser aplaudido pelas multidões que, julgando-o um cómico, lhe dão muitas palmas e assobios de satisfação. O Fífia é um “entertainer”; uma batuta dobrada em cujo plástico “mora” um desafino constante. Mau orquestrador não se lhe segue a orquestra; marchando cada tocador para o lado que mais apetece naquele dia ou naquela hora; sem explicação plausível…Mas não faz mal, quando agarra nos seus pedaços de papel, destila poesia a rodos, como se as palavras servissem tão só e apenas para as brincadeiras de Carnaval que faz, porque para ele, o Entrudo é quando um homem quiser; daí que, mesmo sem patrocínio, o nosso Fífia meta água seja em que altura for ou seja em que lugar for; encharcando-se até aos ossos. Porém, normalmente safa-se, porque à conta dos olhos bonitos que faz (mas não tem) logo acorrem dezenas de aias para enxugar os aguaceiros. O Fífia é um sortudo; uma figura de Roda, ganha numa quermesse de festas; onde entre os pratos, os copos e os porta-chaves de miniatura está, em qualquer número, a sorte de sair um Fífia; mediano de orelhas em pé, com pequenas e delicadas faltas de cabelo; espevitando-se num andar de jibóia disfarçada de colar de diamantes.
O nosso Fífia gaba-se do que não tem; usa de um pronome pessoal narcísico em cujas primeiras palavras se lê o resto do discurso gasto e acabado como um gelado da Fábrica de Gelados Montanha a derreter-se no cone. Falhado nas bases, mas de meia de alcofa, que é de príncipe até aos 20 e Rei daí para cima, ainda não percebi porque ele, logo ele, não foi convidado para participar no Circo das Celebridades.